A emergência climática e o desafio das finanças sustentáveis no Brasil
A agenda de finanças sustentáveis vem ganhando protagonismo diante da emergência climática global. No Brasil, um dos principais desafios é acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e avaliar com precisão os riscos climáticos das empresas que buscam financiamento. No entanto, a falta de dados unificados e de modelos mais robustos de divulgação do impacto ambiental das atividades econômicas tem dificultado a alocação eficiente de capital.
O Climate Finance Hub surge como uma resposta estratégica, oferecendo dados e ferramentas que facilitam a tomada de decisão, além de formar analistas capacitados para esse tipo de avaliação. O lançamento oficial da iniciativa, realizado na última quinta-feira (17) na sede da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), em São Paulo, reuniu especialistas e líderes do setor financeiro.
Entre os participantes, estavam Joaquim Levy, presidente do Conselho do Climate Finance Hub Brasil, Meryam Omi, CEO da Climate Arc, Marcelo Furtado, Head de Sustentabilidade da Itaúsa, Maria Netto, CEO do iCS, e Carlos Takahashi, diretor da ANBIMA e coordenador da Rede ANBIMA de Sustentabilidade.
“O Brasil já possui várias ações climáticas. Nosso desafio agora é unificar e ampliar as parcerias. O Climate Finance Hub, como modelo colaborativo, vai integrar esforços financeiros às políticas que tornem o país mais competitivo”, destacou Linda Murasawa, Líder de Engajamento do Setor Financeiro do Hub.
A equipe do Climate Finance Hub, formada em parceria com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), UFRJ e CooperaClima, vem trabalhando há quase um ano na consolidação de uma metodologia de análise da transição climática. Até o fim de 2024, serão avaliadas 30 empresas brasileiras de capital aberto dos setores de indústria, energia e transporte, áreas cruciais na transição para uma economia de baixo carbono.
“O Hub tem o potencial de identificar setores ainda imaturos na sua jornada de transição climática e ajudar na formulação de políticas públicas que promovam avanços significativos, inclusive para pequenas e médias empresas”, acrescentou Murasawa. A coordenadora do Hub, Christianne Maroun, reforçou a importância de envolver essas empresas, que representam mais de 90% dos negócios no Brasil.
Maria Netto, CEO do iCS, corroborou a visão, apontando que empresas internacionais exigirão cada vez mais transparência de suas fornecedoras brasileiras. “O Hub busca fornecer metodologias e ferramentas para desenvolver estratégias de transição climática de maneira mais clara e objetiva”, afirmou
Joaquim Levy também destacou a crescente pressão regulatória. “O Brasil tem avançado na regulação socioambiental para os bancos, e as empresas precisam estar preparadas. O sistema financeiro deve atuar como facilitador da rota net zero”, afirmou o ex-ministro.
Metodologia ACT e a Plataforma TransitionArc
O evento destacou ainda a metodologia Assessing Low-Carbon Transition (ACT), desenvolvida pelo CDP e pela Agência Francesa para Transição Ecológica (ADEME), que será aplicada pelo Hub para consolidar dados e análises, em parceria com a plataforma TransitionArc, da Climate Arc.
Até 2025, a meta do Climate Finance Hub é avaliar 300 empresas e formar analistas especializados em finanças sustentáveis. O objetivo é criar uma plataforma “one-stop-shop” que facilite o acesso a ferramentas de análise de transição climática, promovendo a integração entre grandes corporações e pequenas e médias empresas, essenciais para a economia real.
“O grande valor do Hub está na transformação dados em inteligência para apoiar a transição climática das empresas e investimentos, mobilizando o capital necessário para uma economia produtiva e positiva para o clima, natureza e pessoas”
Concluiu Marcelo Furtado, Head de Sustentabilidade da Itaúsa. Carlos Takahashi reforçou a necessidade de união de esforços, envolvendo ciência, academia e diversos setores da economia.
Meryam Omi, da Climate Arc, destacou a importância de dados mais organizados para apoiar análises decisivas. “Temos muitas ferramentas de disclosure, mas com transparência limitada e dados desestruturados. A Transition Arc reúne essas informações, fornecendo uma visão mais clara e estruturada para quem toma as decisões”.
Assista o evento de lançamento na íntegra:
Sobre o Climate Finance Hub Brasil
O Climate Finance Hub Brasil é uma instituição que tem como objetivo disponibilizar ferramentas one-stop-shop de análise de transição climática localizadas para a realidade brasileira e desenvolver uma comunidade de analistas especializados em avaliar os impactos dos riscos climáticos na economia real, oferecendo informações transparentes sobre o desempenho climático das empresas e capacitações que apoiem o setor financeiro na tomada de decisões mais seguras para uma transição climática justa.
Em colaboração com diversas plataformas de relato, empresas da economia real e instituições financeiras, a equipe do Hub realiza análises climáticas ancoradas na plataforma TransitionArc, consolidando as melhores análises corporativas disponíveis, facilitando a vida dos tomadores de decisão, que agora têm acesso a uma fonte única de avaliação.
No Brasil, o Climate Finance Hub é coordenado pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), pelo Grupo de Finanças e Investimentos Sustentáveis (gFIS/UFRJ) e a Coopera Clima, com parceria da Climate Arc, do Instituto Itaúsa, e do Instituto Clima e Sociedade (iCS).