Evento do Climate Finance Hub Brasil e da Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) apresenta ferramentas para transformar compromissos climáticos em ações concretas, com foco em transparência, mensuração de riscos e atração de investimentos
O debate sobre a transição climática no Brasil avança, mas ainda enfrenta desafios significativos. Entre eles estão o desalinhamento entre o discurso empresarial e a implementação efetiva de compromissos ambientais, a dificuldade de traduzir investimentos em sustentabilidade em métricas financeiras claras e reconhecidas, e a fragmentação dos dados, que prejudica a criação de benchmarks confiáveis entre empresas e setores.
Além disso, o amadurecimento do mercado financeiro brasileiro para precificar adequadamente riscos e oportunidades climáticas ainda é um processo em construção. A falta de padronização e a distância entre regulação e realidade empresarial tornam urgente a adaptação de metodologias internacionais ao contexto local. Tudo isso exige capacitação técnica, atualização constante e um esforço colaborativo entre investidores, empresas, reguladores e a sociedade.
Foi nesse cenário que o Climate Finance Hub Brasil (CFH) e a Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) realizaram, no dia 18 de junho, no Rio de Janeiro, o evento “Ferramentas para Transição Climática: metodologia internacional ACT e Guias setoriais da Transition Plan Taskforce (IFRS)”, reunindo profissionais do setor financeiro e empresarial. O encontro trouxe ao público brasileiro soluções concretas para a avaliação da maturidade de transição climática nas empresas, com destaque para a metodologia internacional ACT (Assessing Low-Carbon Transition) e para o lançamento da tradução oficial dos Guias Setoriais da Transition Plan Taskforce (TPT).
Da teoria à aplicação prática da transição climática
O evento foi estruturado em dois painéis principais, que trouxeram uma combinação de debates conceituais e exemplos concretos de aplicação das ferramentas de transição climática.
O primeiro painel teve como foco a metodologia ACT (Assessing Low-Carbon Transition), aplicada pelo Climate Finance Hub Brasil. Os participantes puderam conhecer como a metodologia, já utilizada internacionalmente, vem sendo adaptada ao contexto brasileiro para avaliar o desempenho climático de empresas de diferentes setores. Embora a metodologia ACT venha ganhando espaço mundialmente, os grandes diferenciais das análises do CFH Brasil são a adaptação para a realidade local e o engajamento com as empresas analisadas. Um estudo de caso prático foi apresentado, demonstrando como o CFH Brasil pode apoiar empresas, investidores e governos na análise da maturidade de transição climática, permitindo comparações setoriais, identificação de riscos e oportunidades e suporte na tomada de decisão com base em evidências.
Baixe a apresentação completa feita pelo CFH Brasil
Já o segundo painel foi dedicado ao lançamento da versão em português dos Guias Setoriais da Transition Plan Taskforce (TPT), vinculada ao IFRS. Os guias oferecem orientações detalhadas para a elaboração de planos de transição climática robustos, transparentes e alinhados às melhores práticas globais. A tradução desses materiais representa um passo importante para ampliar o acesso ao conhecimento técnico e fortalecer a capacidade de instituições financeiras e empresas da economia real em estruturar seus planos de transição com consistência e viabilidade financeira.
Baixe a apresentação completa feita pela SIS
O debate contou com a participação de especialistas que têm liderado a agenda de finanças sustentáveis e transição climática no Brasil: Luciane Moessa (Soluções Inclusivas Sustentáveis), Christianne Maroun (Coordenadora Geral do Climate Finance Hub Brasil), Carine Lacerda (Instituto Clima e Sociedade – iCS), Denise Hills (Conselheira do Climate Finance Hub Brasil), José Pugas (Partner e Chief Sustainability Officer da Régia Capital e Conselheiro do CFH Brasil) e Laura Albuquerque (CCO da Future Climate).
IFRS S2, TPT e ACT: ferramentas complementares para avaliar e estruturar a transição climática
As ferramentas apresentadas são estruturais para o alinhamento do Brasil aos padrões globais de disclosure climático e transição para uma economia de baixo carbono. Hoje, empresas brasileiras já começam a se adequar às normas internacionais de reporte de sustentabilidade, como o IFRS S2, elaborado pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) e já incorporado à regulação brasileira.
O IFRS S2 determina o quê as empresas devem divulgar riscos e oportunidades climáticas, incluindo seus planos de transição alinhados com o Acordo de Paris. No entanto, o desafio vai além da divulgação: é preciso estruturar esses planos com consistência e viabilidade econômica para garantir que eles sejam efetivamente implementados.
É aí que entram a TPT e a ACT, ferramentas que foram apresentadas detalhadamente no evento:
– TPT (Transition Plan Taskforce): Criado pelo governo do Reino Unido e vinculado ao IFRS, a TPT fornece um guia prático para que as empresas estruturem planos de transição climática robustos, financiáveis e transparentes. O material traz orientações sobre como integrar riscos físicos e de transição, decisões de investimento, modelos de negócio, governança e temas transversais como biodiversidade e transição justa. O conteúdo vai além do IFRS S2 ao detalhar o “como fazer”.
– ACT (Assessing Low-Carbon Transition): Desenvolvida pelo CDP e pela ADEME, a ACT avalia a maturidade dos planos de transição, analisando intensidade de emissões, metas climáticas, estratégia, alocação de capital e governança. Ela também serve como base para auditorias, benchmarking e tomada de decisão baseada em evidências, funcionando como um verdadeiro teste de credibilidade e da efetividade de implementação dos compromissos climáticos corporativos.
A conexão entre essas ferramentas foi reforçada durante o evento: o IFRS S2 determina o que reportar, a TPT orienta como estruturar o plano e a ACT avalia se o plano é crível e consistente com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
TransitionArc: tecnologia a favor da transparência climática
Durante o evento, Christianne Maroun, coordenadora geral do CFH Brasil, apresentou a metodologia ACT e os primeiros resultados do Hub, compreendendo o setor elétrico brasileiro. Em comparação com a média obtida pela World Berchmarking Alliance (WBA), iniciativa global que foi uma das criadoras da ACT e utiliza a metodologia para avaliação de empresas em nível global, o setor elétrico brasileiro se destaca com resultados muito superiores, fruto da nossa matriz elétrica bastante renovável. Enquanto a média do setor mundial no quesito performance foi de 5,3, a média do Brasil foi de 12,6. Por outro lado, o setor precisa evoluir no relacionamento com sua cadeia de valor, garantindo que a transição climática seja implementada também em seus fornecedores e clientes.
“Nossa missão é fornecer avaliações transparentes e baseadas na ciência sobre a maturidade de transição climática das empresas e setores, e engajar a comunidade empresarial e o setor financeiro nesse processo”, afirmou Christianne.
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Vozes do mercado: o papel dos dados e da consistência nas decisões de investimento
Denise Hills, conselheira do Banco ABC, Taesa e do CFH Brasil, destacou a importância de conectar dados de transição climática a decisões reais de investimento. Segundo ela, a leitura de benchmarks com base em dados concretos é essencial para fortalecer a resiliência das empresas, especialmente em setores de ciclo longo, como o de energia. “O padrão energético que teremos no Brasil nas próximas décadas está sendo decidido agora. As decisões que tomarmos hoje vão definir a trajetória de emissões e o desenvolvimento do país no longo prazo.”
José Pugas, sócio da Regia Capital e conselheiro do CFH Brasil, alertou para a necessidade de o mercado financeiro brasileiro evoluir na precificação de ativos climáticos e se preparar para novas regulamentações, como a CVM 193 e o futuro mercado de carbono. “Quando trazemos dados e permitimos a comparação, conseguimos corrigir narrativas e qualificar o fluxo de capital. Precisamos falar o idioma do mercado financeiro, com informações padronizadas e comparáveis globalmente”, afirmou. Para ele, o Brasil tem potencial de protagonismo na economia verde global — desde que comprove, com dados robustos, sua capacidade de entrega.
Democratização do conhecimento: os guias da TPT em português
Luciane Moessa de Souza, diretora executiva e técnica da SIS, destacou a importância da tradução dos Guias Setoriais da TPT: “Nossa intenção foi democratizar esse conhecimento essencial para que o setor financeiro e produtivo brasileiro esteja preparado para os desafios e oportunidades da transição para uma economia de baixo carbono. Não basta traduzir conceitos: é preciso criar pontes para que as melhores práticas globais estejam ao alcance de quem decide e faz a diferença no país.”
Laura Albuquerque, chief climate officer da Future Climate, reforçou que a integração do risco climático nas operações empresariais é um dos maiores desafios do momento. Segundo ela, o risco climático não pode mais ser tratado de forma isolada. “No plano de transição, o risco climático deixa de ser um tema apartado e passa a estar totalmente integrado à operação das empresas”, disse. Laura também ressaltou que a consistência entre metas, orçamento e gestão de riscos é fundamental para que as empresas realmente avancem na direção da neutralidade de emissões.
Sobre o CFH Brasil – Climate Finance Hub Brasil – iniciativa filantrópica que fornece avaliações transparentes e baseadas na ciência da maturidade da transição climática de empresas e setores econômicos, e capacita e engaja a comunidade empresarial em transição climática. Seus financiadores são a Climate Arc, o iCS e o Instituto Itausa.
Sobre a SIS – A Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis é uma organização que atua na intersecção entre finanças e desenvolvimento sustentável, com foco em regulação, transparência de dados socioambientais e capacitação técnica.






















